segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uma noite de chuva

Alguém pode me dizer porque a sirene da polícia é tão irritante ? Ainda mais quando se está dentro do carro onde toca essa maldita sirene.

Ok, eu fui preso por porte de drogas, mas hoje em dia quem não usa é porque conseguiu o Almacard®, e isso não é algo que se queira se você ainda tem a capacidade de pensar.

Não sei qual é a pena, ou se o guarda vai aceitar o meu dinheiro, o que vai acontecer comigo eu só posso imaginar.

Ah ! Isso me faz lembrar de Paquetá, mais precisamente uma sexta feira em que choveu horrores e pavores...



-Ei ! Acorda Arnaldo ! Vamos, o sol tá ótimo !

-Hã ? Tá bom cara, o sol não vai embora, deixa eu dormir...

-Você que sabe, eu vou pra racha, se você quiser ir depois.

-Tá, claro, tá mais que certo....

Eu voltei a dormir, lógico. Não sou de me cortar todo, e o sol ainda virá outros dias, eu não vou deixar de dormir bem em Paquetá, fala sério.

Quando acordei eram dez para as seis, levantei, comi, e fui dar uma volta para refrescar a cuca. Lógico que eu estou falando de fumar, afinal, não há muita mais coisa que se faça aqui.

Voltei, comi o jantar, tomei um banho e fui pra cama, quando levantei já eram nove e quinze. Lógico que eu saíria atrás de um vinho, ou um cigarro e não voltaria tão cedo.

Quando saí estava gotejando, mas não choveria, e se chovesse, água nunca matou ninguém, certo ?

Nenhum sinal do meu amigo, então esqueci o vinho. Parti para uma rua aparentemente deserta, encostei-me na árvore, e acendi meu cigarro. Não era muito cheiroso, admito, mas não havia ninguém por perto para reclamar do cheiro.

Era o que eu pensava.


-Oi, boa noite. Você podia me dizer onde é a pedra da moreninha ?

-Boa noite senhor. A pedra está um pouco longe, mas é só andar e você chega lá, segue por aqui e depois vai pela direita.

-Obrigado, viu ? Até mais

-Inté.

Não sou de falar inté, mas nunca veria esse cara de novo, semana que vem eu saio daqui, e não tenho planos de voltar, mas não penso que me esquecerei tão fácil dessa ilha.

Novamente, era só o que eu pensava, pois depois de dar alguns passos, atender e desligar o telefone, aquele mesmo sujeito dá meia volta e começa a vir na minha direção.

-Boa noite, eu sou André.

-E aí André, como vai ? Me chamo Arnaldo.

-Então Arnaldo, eu ia lá pra moreninha, mas minha namorada disse que vai chover muito, quis ficar em casa. Você não se importa se eu acender um cigarro e ficar aqui um pouco, né ?

-De maneira alguma André, vai em frente. Mas sua namorada não vai se importar de você ter preferido fumar um cigarro com outro homem e deixado ela esperando ?

-Cara, ela é uma vaca, e eu não volto pra casa agora, quem não quis vir foi ela.

-Pois então, está tudo bem, se me permite posso dar um trago em seu cigarro ? Os meus estão acabando.

-Não queria que fosse de outra maneira Arnaldo, toma aí.


E foi nesse instante que a chuva começou a apertar, me escorei na árvore, e continuei fumando com o novo conhecido,André

-Arnaldo, essa chuva está realmente forte, e acho que não vai parar tão cedo, vamos para debaixo daquele toldo, ficaremos mais protegido da chuva com certeza.

De fato a chuva apertara muito mais do que eu esperava, e foi quando a chuva começou a ter essa força, que me lembrei que água já matou muita gente sim !

Corremos para debaixo de um toldo pequeno, depois fomos para outro maior.

-Porra André, o primeiro tava melhor ein ! Esse aqui tá chovendo horrores nas nossas pernas !

-Tá certo cara, mas se voltarmos agora pode molhar o cigarro, e sabemos que temos pouco. Vamos esperar a chuva diminuir para ir embora, nossas pernas podem ficar molhadas, as roupas que devem ficar secas.


Esperamos. Muito. Nunca gostei de relógio, e a bateria do celular do André tinha acabado segundos antes de vermos que já passava das onze. Estava pensando que iria ficar a marugada toda com ele, mas má companhia não era, e não me importaria de esperar mais um pouco.

-Ei ! Já sei ! A gente só não volta pro toldo por causa do cigarro. Vamos fumar aqui mesmo e depois voltamos para casa molhados, qual o problema ?

-Ótima idéia !

Não conseguimos acender o cigarro, porque agora chovia demais, e ventava, então com o cigarro na mão, o isqueiro na outra, as duas bem fechadas, corremos para debaixo do toldo da onde viemos. Nem o cigarro, nem o isqueiro molharam, e o agora estávamos cobertos, sem chuva na perna, no cigarro, ou em qualquer parte.


-Uhul ! Não disse que era melhor aqui, André ?

-Falou e disse amigo, agora não vamos mais perder tempo, e acendamos o bendito cigarro !


Ficamos na chuva por muito mais tempo, foi-se um cigarro, foram-se dois, e antes mesmo da chuva fraquejar, já eramos melhores amigos.


-E aí André, chegamos no final. A chuva diminuiu, mas parece que vai demorar pra acabar. O que diz de acendermos o último cigarro de nossa noite ?

-Katia Flávia, Arnaldo, Katia Flávia...


E foi nesse último cigarro, depois de tantos, as tantas horas da madrugada, estávamos fumando quando um carro passa e para na nossa frente.

Para os que ainda não sabem, os únicos carros de Paquetá são os que você não quer encontrar, pois nessa ilha, só dirige quem tem distintivo.


-O que vocês estão fazendo senhores ? E porque esse cigarro está aceso ? Entrem já no carro ! Agora !


Não tínhamos escolha a não ser entrar no carro da polícia, com a maldita sirene tocando. Quando entramos o policial desligou a sirene, voltou-se para nós, e disse bem calmo:

-Vocês sabem que é proibido fumar em Paquetá, não senhores ? Vocês estavam esperando o quê, debaixo daquele toldo pequeno ? A chuva começou tem horas, não me diga que vocês ficaram esperando ela passar desde as dez?

-Seu guarda, a gente estava sim esperando desde as dez, meu amigo inclusive estava lá a mais tempo que eu. Quanto ao cigarro...

-Que isso ! Não precisa falar mais nada ! É completamente compreensível que, devido a longa e cansativa espera, os senhores acenderam o cigarro porque não queriam correr o risco de molha-lo, e visto que estão esperando desde o início da chuva, não haveria nenhum problema em fumar enquanto a chuva não terminava.

Acredito que não teve outro momento na minha vida em que fiquei tão surpreso, e agradecido. Digo mais: Acredito que não teve nenhum outro momento em que simpatizei com um homem da lei.

-E vamos lá, eu não sou nenhum monstro. Se quisesse ser como os outros policias não teria entrado para a Polícia Verde de Paquetá. Agora, volte a acender o cigarro, e vamos terminar de fumá-lo, depois eu deixo-os em casa, são e secos. Bom, pelo menos mais secos que sãos, não ? hahaha

E foi com esse última risada do policial, que terminamos o último cigarro de nossa aventura. Depois o guarda cumpriu o prometido e nos deixou em casa.




Não me esquecerei jamais daquela noite, e agora me recordo que tenho o telefone daquele bom amigo, e no final ele disse-me que voltaria pra São Paulo, e aqui estou eu, mais uma vez no carro de um policial, mas acho que esse não me deixará em casa, e nem será tão amigável quando o outro companheiro da PVP. Bom, acho que o André ficará feliz em receber uma ligação minha, afinal, ele parecia um sujeito diferente, sem muitos amigos. Posso estar errado, mas eu sei que o número dele é o que estou discando agora, na delegacia, e espero que ele atenda esse telefone, que só toca e toca.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Blog-diário

Desculpa pessoal, de volta ao padrão.

Textos por textos, e só.